Por Hailton Andrade
Há anos a torcida do Bahia não tinha tanta esperança como no início de 2009. Longe da Série A do Campeonato Brasileiro desde 2003, o Tricolor começou a temporada cheio de motivos para convencer o torcedor baiano de que seria possível retornar à elite do futebol nacional. No entanto, o que se viu foi o de sempre: o sonho finda no meio do caminho. Estamos em setembro, faltam 14 rodadas para o término da Segundona e já acabou nosso carnaval.
O discurso da diretoria que assumiu o clube no fim de 2008 animava. Apesar da desconfiança dos fanáticos tricolores, há sempre um pingo de fé. ‘Ah, eu acredito’, cantava a torcida nas arquibancadas do Barradão na final do Baianão deste ano, enquanto mais uma vez o rival Vitória levava a taça de campeão.
Mas que nada, temos Pituaçu, ou melhor, Pituaço, o nosso caldeirão. O Governo do Estado entregara a praça esportiva em janeiro e a torcida do Bahia morria de saudades de ver o time em campo, pois no ano passado o Esquadrão de Aço teve que jogar em Feira de Santana, já que a Fonte Nova fora interditada, devido à tragédia que matou sete pessoas e até hoje ninguém foi punido. Uma pena, estádio novo, público novo. O povão perdeu espaço, pois ingresso de R$ 30 e R$ 40 não é pra qualquer um.
Problemas à parte, naturalmente, o Bahia sobe este ano. Bora Bahêa! ‘Técnico moderno’, assim o diretor de futebol Paulo Carneiro definia Alexandre Gallo, que foi até bem no estadual, mas se acabou no Brasileiro da 2ª divisão. Gallo demitido, Paulo Comelli acerta seu retorno ao comando técnico do time. Ele não era o preferido da direção e da torcida, mas ninguém quis vir. Resultado: o cara foi sacaneado. Demitiram-no em 22 dias, nem deram tempo ao tempo. Chegou Sérgio Guedes para renovar as esperanças da torcida.
Time diferente, postura em campo. Animador no começo. Mas agora somam-se três derrotas seguidas. A meta tricolor sofreu sete gols nos últimos dois duelos. Acabou. Uma brochante 11ª colocação na tabela de classificação e 13 pontos de distância para o grupo dos quatro que garantem vaga na Série A do ano que vem. Dos 14 jogos que restam, o Bahia precisa vencer 12 para subir.
Eu até acreditaria no acesso se o clube ainda fosse grande como nos tempos de Marito, Douglas e Zé Carlos. Só que o Bahia não é mais o Bahia de outrora. É, sim, um time pequeno com uma torcida enorme e inexplicavelmente fanática, como poucas no país.
Em 2009, mais de 40 jogadores vestiram o manto tricolor. Muitos deles já se foram, eles passam, mas o time fica. Falta de planejamento ou um planejamento ruim. Equívocos demais, como nos últimos sete anos. Rebaixamento em 2003, acesso escapa na mão em 2004, queda para Série C em 2005, 2006 de figuração na Terceirona, acesso à Série B no sufoco em 2007 e um 2008 sem graça, sem títulos. Aliás, desde 2002 o clube não conquista nada.
Para piorar, a Sede de Praia do clube, localizada na Boca do Rio, será desapropriada pela Prefeitura de Salvador. O Conselho Deliberativo do clube se reuniu e aprovou. Dizem que o Bahia vai ganhar R$ 20 milhões nessa. Pouca merda.
‘Acabou nosso carnaval / Ninguém ouve cantar canções / Ninguém passa mais brincando feliz/ E nos corações / Saudades e cinzas foi o que restou’, cantaram, um dia, Vina e Carlinhos Lyra. Com tristeza, venho lhes informar, que o carnaval antecipado, marcado no início do ano para dezembro, caso o Bahia subisse, está cancelado. Pelo menos adiado, quem sabe ano que vem, sei não.
Espero poder ver uma reviravolta neste conto repetido. Estou farto do mesmo. A tristeza que a gente sente tem que acabar. ‘Quem me dera viver pra ver / E brincar outros carnavais / Com a beleza dos velhos carnavais / Que marchas tão lindas / E o povo cantando seu canto de paz / Seu canto de paz’, termina a dupla musical. A nação tricolor, como este jovem que aqui escreve, tem fé, mas essa crença se escondeu e deve permanecer enclausurada até o fim deste ano. Não podemos ser bobos.